Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.

janeiro 31, 2004

Estou em estado de sítio. Com uma angina que não mais acaba, dores de cabeça infernais e a mente à beira do colapso.
Hoje não consegui escrever nada, mas estou completamente atrofiada, para não dizer mais, com os tripeiros e a sua arrogância. Que ganhe o melhor...mas sinceramente...para quê este "festival" todo.
Hoje tomei a decisão de não mais me importar com cenas insignificantes que me rodeiam. Quero ser feliz e fazer os outros felizes, mas não tenho que para isso ser escrava de ninguém, nem que me passem por cima. Ainda sou um ser humano. Tou chateada. Hoje não escrevo mais nada.

janeiro 30, 2004

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“O Homem é um animal político”(…) “feito para viver em sociedade”.
(Aristóteles)

Mas o que é isso de viver em sociedade? É supostamente respeitarmo-nos uns aos outros e vivermos muito felizes e contentes, cada um na sua, lembrando-nos de vez em quando dos outros, quando precisamos de algo ou quando ouvimos uns desastres muito trágicos na televisão?

Penso que seja mais que isto. Numa visão muito fria nós só vivemos em sociedade ou lembramo-nos desse conceito “sociedade”, quando somos confrontados com certos aspectos que nos chocam o olhar e os quais repugnamos. Mas como vivemos em sociedade e como somos muito solidários uns com os outros, levantamo-nos e vamos fazer umas manifestaçõezinhas para a porta de uma casa do governo ou nas ruas principais. É este o espírito de “viver em sociedade”?

Afinal o que será “viver em sociedade”? Será que há alguém que me responda a esta simples pergunta?

Temos por sabido que a sociedade está “estratificada”, que todos temos um dito lugar, que desempenhamos certas funções que são úteis e que todos somos imprescindíveis pois, já que vivemos em sociedade, deverá haver sempre lugar para toda a população. Será que é então esse “ser útil” que faz com que o Homem necessite de viver com mais seres iguais a ele? Já paramos para pensar que no fundo nós somos completamente dependentes uns dos outros e que todos desempenhamos funções extremamente importantes no que nos rodeia? É completamente impossível vivermos sozinhos, seres independentes no modo como todo este mundo está organizado! É ridículo pensar no Homem como um ser sozinho, como um leopardo ou um ser assim selvagem, daqueles que vive totalmente isolado e que só na época da reprodução, se aproxima para haver a continuação da sua espécie. Seria totalmente impensável ver o Homem como um animal isolado, que só tivesse como finalidade ter descendentes e à base da vida pela sobrevivência. Seria estranho, não?

De certo modo, a nossa vida resume-se a isso. Talvez a única diferença de todos os animais, é que felizmente ou infelizmente, não temos consciência dessa realidade. A vida, talvez não tenha assim tanto significado como nós gostávamos que tivesse. Gostávamos que isto não fosse só isto, que a morte não fosse o fim. Dai a crença desde os primórdios da nossa existência, a fé nos deuses e a busca ou a tentativa de encontrar algo que nos desse todas as respostas que procurávamos. Algo que nos transcendesse, alguma coisa superior a este mundo, a esta vida, algo criador de todo este ciclo.

Seria muito cruel de minha parte resumir a nossa curta vida, a uma passagem ou a simples peças utilitárias de um jogo, e não seres tão fantásticos únicos no universo. Mas já alguém disse que se fossemos só nós, seria “um grande desperdício de espaço”. Einstein também disse que a ciência seria cega sem a religião, dai que depreendo que, nós temos uma certa necessidade, senão extrema, de acreditar numa continuidade, de que isto não seja tão fatal. Se assim o fosse para quê procurar, para quê tentar obter respostas? Tudo seria em vão…Mas será que não o é? Será que algum dia, alcançaremos o que desejamos?

Posso então dizer que o que nos resta é lutar e viver na nossa “sociedade” para tentar achar essas respostas que, tanto queremos ter. Resta apenas ter a esperança que os nossos descendentes, os nossos filhos e todos os homens e mulheres que nos seguirem, tenham eles as respostas para estas tão grandes perguntas. Que tornem eles esta “linda” sociedade em algo mais bonito e agradável de habitar. Algo que se torne um “orgulho humano” e que não torne esta vida numa razão fria de viver.

Sonhos

"Sonharam que a vida era possível de pé...
Sonharam que o destino do Homem não podia ser sempre um castigo...
Sonharam que a felicidade de todos era possível...
Sonharam em edificar uma lei justa, perante a qual todos fossemos iguais...
E atreveram-se a tornar os sonhos realidade, porque aqueles que o fizeram, sem alarde ou vaidade, atingiram a dimensão superior do Homem e por isso os chamamos de Revolucionários.
(...) E se lutar contra o tirano nos faz culpados, então assumimos essa culpa com orgulho."

(Luís Sepúlveda)

SONHAR...já dizia o poeta que "o Homem sonha e a obra nasce". Talvez o sonho comande a vida, talvez se deixarmos de sonhar, deixamos de viver e de ser humanos. De ter esta essência que é lutar para algo maior, algo transcendente, que nos faz levantar e encarar o novo dia com um sorriso ou também a mandar "bocas" ao despertador. Mas a verdade é que nos levantamos. Somos conduzidos a algo. Talvez o trabalho, a escola, ou pura e simplesmente a rotina...mas a verdade é que há algo que nos faz ter coragem para tal: Viver!

Será que é a sonhar que ganhamos força para dar um passo em frente, olhar o mundo e ver tudo a cores? Penso que no fundo são os sonhos que dominam a nossa vida. Sonhar em ascender no trabalho, em ter uma família, em comprar uma casa, passear, enriquecer... no fundo se não sonharmos, deixamos de ter objectivos, de ter prazer em viver.

Sonhadora, eu? Muito! Obrigada e espero que você também o seja!
Já pensaram que se deixarmos de sonhar, de ter um objectivo, de ter planos para fazer no dia seguinte, a vida torna-se fastidiosa e sem a sua maravilha? Afinal, nós temos um provável dom de sonhar. Isto torna-se útil para algo mais forte que nós. Algo que nos conduz a algum lado, que nos faz ter metas e levar tudo isto com sentido.

Alguns chamam-lhe fé, outros, destino, eu gosto de falar em sonhos. Gosto de sonhar que hei-de conseguir fazer tantas coisas que desejo para me tornar numa pessoa melhor e sentir-me bem. Isso sim...sentir-me bem. Sentir que me respeito e que tenho vivido aproveitando tudo de melhor possível, claro está, às vezes com uns desajustes pelo caminho. Gosto de sonhar que hei-de alcançar um lugar que não sei qual é, mas que tudo isto que tenho sonhado e vivido não seja em vão e que haverá algum lugar para tudo não ser um desperdício de tempo.

Mas afinal o que é tudo isto que nos envolve; o que é esta vida vivida por toda a gente? Seremos como as formigas que têm a sua comunidade e que nós observamos, pensando que elas têm uma sociedade muito desenvolvida? Mas o que é isso de sociedade desenvolvida? É isto onde vivemos que é uma sociedade dita "desenvolvida", onde as pessoas se destroem pelo dinheiro, pelo querer enriquecer, pela vingança, pelo poder, pela sede de fama… O mundo actual, todo este período que atravessamos faz parar para pensar no possível significado que isto possa alcançar. Todos estes sentimentos ruins envolvem-me numa atmosfera de terror para um futuro promissor tanto de vida pessoal como profissional. Ter filhos para eles um dia terem que sobreviver nesta selva, sim, porque esta tal de “sociedade desenvolvida” não passa de uma selva amazónica com índios que usam jeans e camisa, onde as casas têm tijolos e onde só sobrevive o mais forte. A lei Darwinista volta a atacar. O mundo afinal não é cor-de-rosa como nós em criança sonhámos. É a preto e branco com uma tendência para se tornar verdadeiramente preto. Se todos os nossos dirigentes “queridos” continuam a comportarem-se desta forma arrogante e catastrófica, qualquer dia não haverá um lugar pacífico neste cantinho do universo e nem sonhos, pois ninguém terá vontade de o fazer.

Sonhar! Antes de se adormecer “deseja-se bons sonhos”. Eu desejo a toda a gente que sonhe. Sonhe acordada, a dormir, a comer, a correr, a trabalhar, a fazer amor. A vida tem que ser alegrada com uma vontade vinda do mais íntimo de nós. Olhar para dentro, pensar no passado para fazer um futuro melhor era o que todos devíamos fazer e não ser-mos egoístas ao ponto de magoarmos as pessoas que mais amamos. Sentimentalismo? Sim. Muito. Mas será possível que chegar ao fim e olhar para trás se sente o mesmo e de modo igual, alguém que viveu narcisicamente e maquiavélicamente? Acho que não. Chego a afirmar que não. Mas neste mundo encontramos tanta gente má e cruel que justifica o seu modo de agir estupidamente com teorias as quais nem vale a pena referir. O meu desejo é chegar algum dia ao fim de tudo e saber que não magoei ninguém a quem não tenha pedido desculpa e que todas as coisas que tenha feito mal, tenha conseguido remediá-las.

Somos homens e mulheres. Somos diferentes. Pensamos. Sonhamos. Cremos em algo. Como é possível que haja tanto ódio nesta tão curta existência a nossa. Seres tão medíocres capazes de arruinar algo tão precioso que é esta nossa essência, esta vontade de viver e de aprender. Somos dotados de capacidades tão especiais que não sabemos aproveitar nem utilizá-los para tornar esta espécie imortalmente honrada. Utopias sonharam alguns… irrealizáveis. Malvados seres insatisfeitos! Mas sejamos inconformistas. Não nos contentaremos com simples promessas de encher os olhos. Desejos vãos? Deixo a pergunta em aberto para que os sonhos não se acabem e as mentes não se fechem.