Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.

janeiro 29, 2005

Magia

"Buscando sem saber bem o quê
Perdido como quem não vê
Calado como quem não tem resposta para quem o chama
Desesperado, como quem por ter medo da desilusão não ama"

Yogi Pijama - Jorge Palma

Gosto muito desta música.
Gosto muito de Jorge Palma.
Gosto de abrir as portas ao mundo e pensar que é uma coisa obscena!
Gosto de pensar que vou chegar ao fim inteira.
E gosto de ver-te sorrir. "Sorrir torna a pena mais leve". A minha, a tua, a de todos nós.
Gosto disto, daquilo, de qualquer coisa...de muita coisa.

Mas não gosto de não gostar.
Não gosto de ter frio.
Não gosto de sentir ódio.
Não gosto de sentir nojo.
Não gosto de repugnância.
Não gosto disto, daquilo, do outro...

Se pudesse agora queria frio.
Queria ódio.
Queria nojo.
Queria repugnância.
Queria qualquer coisa: não sentir isto que sinto.

Mas o que sinto foi o que disse; e se não dissesse não sentia.
Sinto raiva.
Sinto lágrimas.
Sinto mágoa.
Mas sinto magia...de ir embora!

100 páginas

Hoje a remexer no armário perguntei-me:
"Como é possível ter dois anos da minha vida, resumida em cem páginas num dossie?"

- Ainda não consegui responder...

janeiro 28, 2005

um ano

"O inferno já não aguenta tantos demónios. Estamos a receber os excedentes aqui na Terra. Um género de deslocados do Inferno. E nós, os antigos revolucionários, fazemos parte desses excedentes. Fomos socialistas aldrabões, somos capitalistas albradados"
(Mia Couto)


Como sei que não vou ter tempo para escrever, no dia em que este meu cantinho fizer um ano de existência, decidi antecipar-me e tentar fazer uma pequena análise deste tempo decorrido.
Por isso, achei por bem, transcrever algo deste escritor, que penso que é apropriado para comemorar este pequeno aniversário.

É o que me vai na alma. Sinto-me desmoralizada com todo o mundo em meu redor. Parece-me que nada se alterou num ano. Pelo contrário. Houve alterações para pior.
Há uns tempos atrás, sentia-me defraudada pelo mundo. Sentia-me roubada. Todas as expectativas que tinha, de tudo o que ele me podia dar, ensinar, tinham deixado de existir. De um momento para o outro, senti-me abandonada, como que a vaguear pelas ruas sem destino.
Vaguei muito. Andei em muitas ruas, fiz escolhas em muitos cruzamentos, ao sol e à chuva. Conheci, aprendi, cai, magoei-me e sofri.

Hoje, sinto-me diferente.
Não é o mundo que tem que nos dar o que queremos. Somos nós que temos que saber o que pretendemos e trabalhar por isso. Nada nos é oferecido.
Mas isso, podem dizer alguns, é algo que já deviamos saber, não? Claro que sim... É algo intrínseco no ser. Nas mentes que deambulam nesse corredor de vida.
Porém, cheguei a um percurso, nesta correria desenfreada, onde quis descansar. Descansar de mim, de ti, de todos, da vida... Não me foi permitido. Não me deixaram. E eu chorei...
Chorei ao olhar para mim, para ti, para o meu lado, para o céu. Chorei porque não queria viver assim: sem querer viver.
Mas as lágrimas secaram. Alguém ajudou-me a limpá-las. Levantei-me e vi que ainda havia esperança.
Porém, a Esperança... oh, palavra tão bonita, que desperta tantas paixões...parecia que tinha fugido. Não sei para onde nem com quem.Tinha deixado de acreditar. Tinha saído de mim, libertou-se desta minha forma de viver tristonha e enfadonha.

Há uns tempos encontrei-a. Não me lembro onde. Perguntei-lhe se queria voltar para junto de mim. Ela respondeu que sim. Mas com uma condição: não a podia prender. Tinha que ser ela a abraçar-me com os seus longos braços e fazer-me voltar a acreditar na Vida e nos Homens.
Ultimamente têm-me ensinado muito. Aos poucos mostra-me um mundo onde ainda é possível olhar um sorriso e ver crianças a nascer. Mas ela sabe, todos os dias, que há sempre coisas ruins que nos entristecem, que nos causam desilusão. Ela tenta desviar-me a atenção do mal, e observar o bom da humanidade.
Árdua tarefa a dela. Tem tido coragem e paciência para moldar esta minha figura casmurra. Não sei quando se sentirá satisfeita, nem quando acabará o seu trabalho.
Só sei que por enquanto eu vou tentando voltar a acreditar. A sonhar...

janeiro 20, 2005

A culpa é da vontade



A culpa não, não é do Sol
Se o meu corpo se queimar
A culpa não, não é do Sol
Se o meu corpo se queimar
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te abraçar.

A culpa não, não é da praia
Se o meu corpo se ferir
A culpa não, não é da praia
Se o meu corpo se ferir
A culpa é da vontade
Que tenho de te sentir.

A culpa é da vontade
Que vive dentro de mim
E só morre com a idade
Com a idade do meu fim
A culpa é da vontade

A culpa não, não é do mar
Se o meu olhar se perder
A culpa não, não é do mar
Se o meu olhar se perder
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te ver

A culpa não, não é do vento
Se a minha voz se calar
A culpa não, não é do vento
Se a minha voz se calar
A culpa é do lamento
Que sufoca o meu cantar

A culpa é da vontade
Que vive dentro de mim
E só morre com a idade
Com a idade do meu fim
A culpa é da vontade

Humanos Posted by Hello

janeiro 18, 2005


"Desocupado leitor, (...)
Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga , rocim fraco e galgo corredor"...

É assim que começa uns dos mais célebres romances de toda a história da literatura mundial.Este ano que se comemora os 400 anos da 1ª publicação, nunca é demais lembrar este nosso compincha espanhol, Miguel de Cervantes.
Bem haja a sua memória! Posted by Hello

janeiro 13, 2005

Finalmente...fotos! Yupi!

Depois de um longo tempo de ignorância de não saber como adicionar fotos, numa noite de inspirada inteligência e alguma sorte, lá consegui atravessar esses caminhos de árdua tarefa!

Digamos que a primeira foto não será "inspiradora"...mas num deserto...um incêndio pode sempre acontecer e nada melhor que ter à mão, algo que apague algum possível fogo!


Um extintor fica sempre bem em qualquer lugar e faz falta em infelizes ocasiões. Posted by Hello

janeiro 07, 2005

Era noite...
Saiu de casa saltando pela janela, porque sabia que a única porta que dava para a rua, rangia e seria logo descoberto. Olhou para o céu. Estava uma noite fria de Inverno, mas o seu objectivo não seria abalado pela temperatura baixa.
Correu. Ia descalço. Andava sempre descalço. Gostava de pisar o chão, senti-lo...Há muito que as feridas sararam. Já nada o magoava. Só o frio...
A praia lá estava, abandonada pela noite. Sentiu-se feliz. Encontrara o seu pequeno mundo naquela praia.
O silêncio encantara-o. Só o barulho grandioso do mar destruia esse silêncio completo por falta de vida. Só a água ganhava vida naquele mundo.
Molhou os pés. Correu para a água. Gelava. Mas ele gostava dessa sensação. Sentir o corpo arrepiado. Pequenas pontadas, como mini-agulhas a enfiarem-se lentamente pela pele. Mergulhou. A cabeça como que adormeceu. Mas ele foi forte e conseguiu vir à tona. Adorava sentir o fio que separa a vida e a morte. Certa vez, pensou que não regressaria.
Saiu da água. Deitou-se na areia a contemplar o céu e a ouvir o mar. Só naqueles momentos sentia-se feliz. O que o separava do mundo sendo humano, deixava de o fazer. Sentia-se do mundo. Sentia-se do mar. Era mais um grão de areia na praia.
Adormeceu. Nú. Ao frio, mas feliz. A morte para ele deixou de ser apenas uma barreira. Morreu onde mais gostava, fugindo a um mundo que o fazia prisioneiro. Morreu de frio mas quente pela vida do último banho de mar.

janeiro 03, 2005

2005

Um novo ano começou!
Como é natural neste primeiros dias, deseja-se um feliz ano a todos aqueles que fazem parte das nossas vidas e de quem gostamos. Assim...Um Feliz Ano para todos aqueles que ainda possam passar por aqui.
O ano começou mal em muitas paragens. Estou, obviamente, a falar dos paises asiáticos e alguns africanos, que sofreram e estão a sofrer com as consequências de um grande abalo sismico e tsnunami. De tão longe que estou não sei nunca se poderei fazer alguma coisa, mas aqui fica expressa a minha solidariedade com todos aqueles povos devastados por tamanha tormenta.
Desejo que os governos e instituições internacionais reagam depressa, porque tudo depende do tempo que eles possam demorar. A vida de inúmeras pessoas que sobreviveram depende deles e expresso que apesar da minha impotência, faço figas e rezo para que dentro de toda a miséria, alguma luz se acenda.
Em Lisboa o ano começou bem. Com bom tempo e com um grande encontro de jovens, vindos de toda a Europa, organizado pela comunidade de Taizé.
Como a minha paróquia participou no Encontro, eu também participei com a minha presença e com a minha casa à disposição. Acolhi dois jovens, a Miki e o Lucas, ambos polacos e muito simpáticos e fixes. Foi uma experiência que jamais esquecerei.
Ainda dizem que os jovens já não são movidos por nada, mas nestes dias viu-se que há muitas coisas que ainda saltam fronteiras, e uma dela é a Fé. 40 mil jovens, reunidos, juntos com um objectivo: rezar.
Foi sublime aquilo que vivi durante 4 dias. Espero que esta experiência feita na terra patria traga mais alguma coisa e que não fique apenas como mais uma coisa feita.