Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.

janeiro 28, 2005

um ano

"O inferno já não aguenta tantos demónios. Estamos a receber os excedentes aqui na Terra. Um género de deslocados do Inferno. E nós, os antigos revolucionários, fazemos parte desses excedentes. Fomos socialistas aldrabões, somos capitalistas albradados"
(Mia Couto)


Como sei que não vou ter tempo para escrever, no dia em que este meu cantinho fizer um ano de existência, decidi antecipar-me e tentar fazer uma pequena análise deste tempo decorrido.
Por isso, achei por bem, transcrever algo deste escritor, que penso que é apropriado para comemorar este pequeno aniversário.

É o que me vai na alma. Sinto-me desmoralizada com todo o mundo em meu redor. Parece-me que nada se alterou num ano. Pelo contrário. Houve alterações para pior.
Há uns tempos atrás, sentia-me defraudada pelo mundo. Sentia-me roubada. Todas as expectativas que tinha, de tudo o que ele me podia dar, ensinar, tinham deixado de existir. De um momento para o outro, senti-me abandonada, como que a vaguear pelas ruas sem destino.
Vaguei muito. Andei em muitas ruas, fiz escolhas em muitos cruzamentos, ao sol e à chuva. Conheci, aprendi, cai, magoei-me e sofri.

Hoje, sinto-me diferente.
Não é o mundo que tem que nos dar o que queremos. Somos nós que temos que saber o que pretendemos e trabalhar por isso. Nada nos é oferecido.
Mas isso, podem dizer alguns, é algo que já deviamos saber, não? Claro que sim... É algo intrínseco no ser. Nas mentes que deambulam nesse corredor de vida.
Porém, cheguei a um percurso, nesta correria desenfreada, onde quis descansar. Descansar de mim, de ti, de todos, da vida... Não me foi permitido. Não me deixaram. E eu chorei...
Chorei ao olhar para mim, para ti, para o meu lado, para o céu. Chorei porque não queria viver assim: sem querer viver.
Mas as lágrimas secaram. Alguém ajudou-me a limpá-las. Levantei-me e vi que ainda havia esperança.
Porém, a Esperança... oh, palavra tão bonita, que desperta tantas paixões...parecia que tinha fugido. Não sei para onde nem com quem.Tinha deixado de acreditar. Tinha saído de mim, libertou-se desta minha forma de viver tristonha e enfadonha.

Há uns tempos encontrei-a. Não me lembro onde. Perguntei-lhe se queria voltar para junto de mim. Ela respondeu que sim. Mas com uma condição: não a podia prender. Tinha que ser ela a abraçar-me com os seus longos braços e fazer-me voltar a acreditar na Vida e nos Homens.
Ultimamente têm-me ensinado muito. Aos poucos mostra-me um mundo onde ainda é possível olhar um sorriso e ver crianças a nascer. Mas ela sabe, todos os dias, que há sempre coisas ruins que nos entristecem, que nos causam desilusão. Ela tenta desviar-me a atenção do mal, e observar o bom da humanidade.
Árdua tarefa a dela. Tem tido coragem e paciência para moldar esta minha figura casmurra. Não sei quando se sentirá satisfeita, nem quando acabará o seu trabalho.
Só sei que por enquanto eu vou tentando voltar a acreditar. A sonhar...

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