Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.

abril 29, 2004

Sinto-me inútil quando não consigo dizer nem escrever aquilo que sinto, aquilo que penso, aquilo que vivo. Enfurece-me. Torno-me num ser que se fecha em si proprio tentando encontrar no exterior aquilo que lhe vai dentro, como um automato, sem objectivo, sem metas, sem destino...
Por isso, só quero acrescentar, não a 100%, mas a 95%, que me identifico com os poemas que alguém os escreveu por mim. Alguém que de um modo ou de outro, parece que remexeu naqueles sentidos mais escondidos do meu ser, que fez vir à tona aquilo que eu pensava já ter esquecido, aquilo que eu quero esquecer, que não quero lembrar.
Obrigada...

"tenho medo que diluas toda a ilusão que criei"

Um dia...talvez.

Sol...
Raio de luz que me invade
sofrega e repentinamente.
Explicar não sei
mas sinto que estás perto.
Não te vejo!
Volto a olhar.
Sento-me.
Não vens tal como esperava.
Fico assim várias horas
e sei sinceramente que não virás
porque não sabes que te espero.

Lua...
Anoitece e continuas sem vir
as horas passam lentamente.
Atribuo a cada estrela um simples sonho
A cada maré um sentido.
Continuas sem aparecer mas eu espero
paciente e esperançosamente.
Penso na invisibilidade dos sentimentos...
Não os podemos esconder eternamente,
Mas ás vezes mostrá-los não resulta.
Mesmo que to diga, não entendes...
Não queres entender...

Amanhece...
A noite não te trouxe
Desejo,então, que este dia o faça.
O meu coração fechou-se
Em lágrimas que não conheces.
Enquanto isso tu continuas
vivendo na desesperante solidão...
Saio á rua!
Costumas estar naquela praça
Mas logo hoje não estás.
Queria dizer-te algo
Queria guardar na memória
A profundidade da tua vontade
Que guardas com ansiedade
E que estando no teu olhar
Tu não sabes e pensas não mostrar.

Pôr do sol...
E passou-se mais um dia
E sem te ter visto
Continuas em mim prisioneiro.
Cativo dono dos meus sonhos.
Talvez um dia vejas
Que não és para mim uma recordação
Mas sim, o desejo da realização da mortífera ilusão
que permanece comigo
Pois tenho medo que diluas toda a ilusão que criei.

Um dia...
Sim, talvez um dia me vejas
Ou quem sabe...talvez um dia te encontre.
Talvez um dia te diga.
Talvez um dia entendas.
Talvez um dia queiras entender...
Mas até esse dia espero
sem qualquer sinal de fadiga.
Talvez um dia me encontres.
Talvez um dia me digas.
Espero não tarde demais...
Talvez um dia!


(Cláudia)

Cores da vida... minha ou tua

Tenho desprezado o blog. Sei que não tenho dado a atenção que julgo que ele merece, mas vivo tempos conturbados para me dedicar a isto.
Por isso, como poeta não sou nem serei, apesar de achar a poesia uma arte sublime e bem me esforçar por tentar ser artista, não consigo, mas dou-lhe bastante relevo na minha vida.
Assim aqui vou deixo uns poemas de alguém que me tem surpreendido com o seu dom.

Cores da vida... minha ou tua.

Vi-te entre folhas e flores
Parecias tu...talvez não fosses.
Castanho dos teus cabelos
ou do tronco das antigas árvores
Que sustentam a terra castanha dos teus olhos.
Verde das vastas folhas
da tua ou da minha vontade.
Vermelho das camélias
da minha ou da tua paixão.

O azul do rio que corre como a vida
Pois entao te digo:
O passado não volta!
A mesma água não retorna!
Vê com a luz do sol os actos que ofuscas
Com o cinzento de um céu madrugador.
O deleito imaginário de uma floresta encantada
de mil cores que são os outros e
do amarelo do sol que somos nós.

Vejo uma pedra suja da terra castanha
recordo-te, desejo rever-te.
As sombras de um vale que esconde
a mim ou a ti...
Fugimos um do outro ou de nós próprios?
Não fugimos... viajamos em busca de um sonho
Meu ou teu... talvez nosso.


(Cláudia)

abril 23, 2004

Cada vez mais aqui (Toranja)

Cada vez mais aqui

Queres lutar com quem?
Para doer aonde?
Para ser o quê?
Achas que ninguém vê?...

E p'ra quê fingir?
Porquê mentir e remar na dor?
Achas que ninguém vê?...

Também eu queria parar...
chorar... cair...
p'ra me levantar, p'ra te puxar!
Te fazer sorrir, não voltar a cair!...

Não me olhes assim,
continuo a ser quem fui!
Cada vez mais aqui...
Não dances tão longe que eu já te vi...

Também eu queria parar...
chorar... cair...
p'ra me levantar, p'ra te puxar!
Te fazer sorrir, não voltar a cair!...

abril 21, 2004

Vontade!

Encontrei ou fizeram-me encontrar, este poema. Foi uma amiga que o mandou, que o escreveu, que o sentiu, tal como eu sinto que preciso encontrar a Vontade que tanta falta me faz. O dificil é quando deixamos de sonhar e mais tarde de viver.

"Encontrei-a onde pensei nunca a poder ver.
Lá estava ela... adulterada, retorcida.
Não era coisa nenhuma.
Não era quase nada mas fracamente dardejava...
Escondida numa toca de 3 essências,
um talismã envolvido num só odor.
Era o nariz-de-cera que o espelho não reflectia,
a força que os magros braços não mostram.
Lá estava ela... bem mais perto do que imaginei.
Lado a lado com o sonho e a vida, a vontade."
(Cláudia)

abril 14, 2004

É a promessa de vida no teu coração

Em comemoração com o lançamento de uma colectanea de músicas de Elis Regina, aqui fica uma que gosto muito...

Águas de março- Elis Regina
(Tom Jobim)

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba no campo, é o nó da madeira
Caingá candeia, é o matita-pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mao, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto um desgosto, é um pouco sozinho
É um estepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É um pingo pingando, é uma conta, é um ponto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manha, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguicado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as aguas de março fechjando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É um resto de mato na luz da manhã

Metáforas

"As metáforas são perigosas. O amor começa com uma metáfora. Ou por outras palavras, o amor começa no preciso instante em que, com uma das suas palavras, uma mulher se inscreve na nossa memória poética." Sendo a memória poética o seguinte: " poderia chamar-se memória poética uma zona perfeitamente especifica no cerebro e que regista aquilo que nos encantou, aquilo que nos comoveu, aquilo que dá à nossa vida a sua beleza própria."

Aproveitando estas palavras do senhor Kundera, já que me "obrigaram" a ler um dos seus livros, posso dizer que nas suas paginas tenho encontrado aquilo em que eu já pensei e que nunca disse a ninguém. É como se o mais intimo de nós, aquilo que nos vem à mente e que pensamos que não faz sentido, começasse a fazer, pois alguém transpôs para o papel. Certas coisas que não revelam importância, naquelas paginas revestem-se de uma beleza diferente. Há algo que nos faz identificar com aquelas frases, com aqueles pensamentos.
Falar das decisões, falar dos passos que damos na nossa vida de uma maneira tão simples, faz-nos compreender que há que dar o maior valor a tudo o que nos rodeia, tirar o máximo partido daquilo em que estamos no Presente, e não pensar no "se" ou no "ou". A vida não é feita de indecisões. Não é feita de meias realidades, de meias-verdades. Há uma verdade, há uma realidade. Aquela em que estamos, aquela em que acreditamos.
Eu identifico-me com aquilo que transcrevi do livro. Eu sou assim. Vivo assim. Vivo bem? Vivo mal? Não sei. Sei que vivo. Não posso comparar esta minha vida com outra que vivi. Não posso pensar em "ses", tenho que viver segundo as minhas opções num "tem que ser". Não com conformismo, mas com paixão. Com amor pela vida, pelos outros e por mim. Tenho que viver, sentindo que tal como a mulher entra na memória poética de alguém, eu também entrarei na minha própria memória e talvez, quem sabe, um dia, serei a metáfora de alguém que não tem medo de brincar com as palavras e nem medo das metáforas.

abril 09, 2004

Doce Páscoa

Mais uma Sexta-feira Santa. Mais 3 filmes por dia nas televisões. Mais filmes de época daqueles que nem os avós se lembram de quando estrearam...mas não interessa. Mesmo com esta programação, gosto das épocas festivas. Faz-me lembrar as férias de Natal, quando tinha 10 anos que passava a semana de Natal a ver filmes, bonecos e tudo e mais alguma coisa, como a Heidi. Gostava de me embrulhar na manta, com o pijama, vir para a sala e passar o dia inteiro assim. Talvez desde esses tempos venha este meu capricho de passar as férias em casa, à frente à tv, de pijama e com um livro como companhia para quando a tv está sem qualidade. Agora tenho o pc. É mais uma distracção, como tantas outras. Mas a tv velhinha continua a ter a minha concentração.
Ontem, depois de muitos dias em que mantive um horário nocturno decente, deitei-me às 05h. Estava contente. Há muito tempo que não tinha insónias e crises de horários trocados, como é costume na minha pessoa. Mas depois de tanto tempo a tentar ter uma vida normal, não consegui. Fiquei petrificada com um filme sobre Ludwing van Beethoven. Gostei muito. Mais uma vez a demonstração que os génios são sempre incompreendidos e nunca são felizes. O que me deixa algum pingo de esperança de felicidade, pois génia, eu, só da lamparina.
E é assim com esta frase interessante sobre o meu fado, que deixo um beijinho de Feliz Páscoa para quem tem coragem ainda de me "visitar".
O Alentejo é fixe. Dá paz de espirito. Dá um luar sobre nós proprios. Dá a esperança de alguma batalha a preparar nesta guerra imortal. Mas neste momento o que me menos apetece é planear alguma coisa. Vou voltar para a lareira e para o sofá....

abril 06, 2004

Ler...

"O homem constrói casa porque está vivo, mas escreve livros porque sabe que é mortal.Vive em sociedade porque é gregário,mas lê porque se sente só. A leitura constitui para ele uma companhia que não ocupa o lugar de nenhuma outra, mas que nenhuma outra poderia substituir. Não lhe oferece nenhuma explicação definitiva acerca do seu destino, mas tece uma apertada rede de conivências entre a vida e ele. Ínfimas e secretas conivências que falam da paradoxal alegria de viver, mesmo quando referem o trágico absurdo da vida. Por isso as razões que temos para ler são tão estranhas como as que temos para viver"