Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.

abril 14, 2004

Metáforas

"As metáforas são perigosas. O amor começa com uma metáfora. Ou por outras palavras, o amor começa no preciso instante em que, com uma das suas palavras, uma mulher se inscreve na nossa memória poética." Sendo a memória poética o seguinte: " poderia chamar-se memória poética uma zona perfeitamente especifica no cerebro e que regista aquilo que nos encantou, aquilo que nos comoveu, aquilo que dá à nossa vida a sua beleza própria."

Aproveitando estas palavras do senhor Kundera, já que me "obrigaram" a ler um dos seus livros, posso dizer que nas suas paginas tenho encontrado aquilo em que eu já pensei e que nunca disse a ninguém. É como se o mais intimo de nós, aquilo que nos vem à mente e que pensamos que não faz sentido, começasse a fazer, pois alguém transpôs para o papel. Certas coisas que não revelam importância, naquelas paginas revestem-se de uma beleza diferente. Há algo que nos faz identificar com aquelas frases, com aqueles pensamentos.
Falar das decisões, falar dos passos que damos na nossa vida de uma maneira tão simples, faz-nos compreender que há que dar o maior valor a tudo o que nos rodeia, tirar o máximo partido daquilo em que estamos no Presente, e não pensar no "se" ou no "ou". A vida não é feita de indecisões. Não é feita de meias realidades, de meias-verdades. Há uma verdade, há uma realidade. Aquela em que estamos, aquela em que acreditamos.
Eu identifico-me com aquilo que transcrevi do livro. Eu sou assim. Vivo assim. Vivo bem? Vivo mal? Não sei. Sei que vivo. Não posso comparar esta minha vida com outra que vivi. Não posso pensar em "ses", tenho que viver segundo as minhas opções num "tem que ser". Não com conformismo, mas com paixão. Com amor pela vida, pelos outros e por mim. Tenho que viver, sentindo que tal como a mulher entra na memória poética de alguém, eu também entrarei na minha própria memória e talvez, quem sabe, um dia, serei a metáfora de alguém que não tem medo de brincar com as palavras e nem medo das metáforas.

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