Era noite...
Saiu de casa saltando pela janela, porque sabia que a única porta que dava para a rua, rangia e seria logo descoberto. Olhou para o céu. Estava uma noite fria de Inverno, mas o seu objectivo não seria abalado pela temperatura baixa.
Correu. Ia descalço. Andava sempre descalço. Gostava de pisar o chão, senti-lo...Há muito que as feridas sararam. Já nada o magoava. Só o frio...
A praia lá estava, abandonada pela noite. Sentiu-se feliz. Encontrara o seu pequeno mundo naquela praia.
O silêncio encantara-o. Só o barulho grandioso do mar destruia esse silêncio completo por falta de vida. Só a água ganhava vida naquele mundo.
Molhou os pés. Correu para a água. Gelava. Mas ele gostava dessa sensação. Sentir o corpo arrepiado. Pequenas pontadas, como mini-agulhas a enfiarem-se lentamente pela pele. Mergulhou. A cabeça como que adormeceu. Mas ele foi forte e conseguiu vir à tona. Adorava sentir o fio que separa a vida e a morte. Certa vez, pensou que não regressaria.
Saiu da água. Deitou-se na areia a contemplar o céu e a ouvir o mar. Só naqueles momentos sentia-se feliz. O que o separava do mundo sendo humano, deixava de o fazer. Sentia-se do mundo. Sentia-se do mar. Era mais um grão de areia na praia.
Adormeceu. Nú. Ao frio, mas feliz. A morte para ele deixou de ser apenas uma barreira. Morreu onde mais gostava, fugindo a um mundo que o fazia prisioneiro. Morreu de frio mas quente pela vida do último banho de mar.
Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.
janeiro 07, 2005
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1 comentário:
sem querer ser mórbido... que bom seria se toda a gente morresse assim, feliz, a fazer o que gosta!
Gostei do k escreveste! Mas essa frieza subjacente é intrigante... soa a "mãos frias, coração quente..." ;-)
beijocas!!
César
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