Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.

janeiro 30, 2004

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“O Homem é um animal político”(…) “feito para viver em sociedade”.
(Aristóteles)

Mas o que é isso de viver em sociedade? É supostamente respeitarmo-nos uns aos outros e vivermos muito felizes e contentes, cada um na sua, lembrando-nos de vez em quando dos outros, quando precisamos de algo ou quando ouvimos uns desastres muito trágicos na televisão?

Penso que seja mais que isto. Numa visão muito fria nós só vivemos em sociedade ou lembramo-nos desse conceito “sociedade”, quando somos confrontados com certos aspectos que nos chocam o olhar e os quais repugnamos. Mas como vivemos em sociedade e como somos muito solidários uns com os outros, levantamo-nos e vamos fazer umas manifestaçõezinhas para a porta de uma casa do governo ou nas ruas principais. É este o espírito de “viver em sociedade”?

Afinal o que será “viver em sociedade”? Será que há alguém que me responda a esta simples pergunta?

Temos por sabido que a sociedade está “estratificada”, que todos temos um dito lugar, que desempenhamos certas funções que são úteis e que todos somos imprescindíveis pois, já que vivemos em sociedade, deverá haver sempre lugar para toda a população. Será que é então esse “ser útil” que faz com que o Homem necessite de viver com mais seres iguais a ele? Já paramos para pensar que no fundo nós somos completamente dependentes uns dos outros e que todos desempenhamos funções extremamente importantes no que nos rodeia? É completamente impossível vivermos sozinhos, seres independentes no modo como todo este mundo está organizado! É ridículo pensar no Homem como um ser sozinho, como um leopardo ou um ser assim selvagem, daqueles que vive totalmente isolado e que só na época da reprodução, se aproxima para haver a continuação da sua espécie. Seria totalmente impensável ver o Homem como um animal isolado, que só tivesse como finalidade ter descendentes e à base da vida pela sobrevivência. Seria estranho, não?

De certo modo, a nossa vida resume-se a isso. Talvez a única diferença de todos os animais, é que felizmente ou infelizmente, não temos consciência dessa realidade. A vida, talvez não tenha assim tanto significado como nós gostávamos que tivesse. Gostávamos que isto não fosse só isto, que a morte não fosse o fim. Dai a crença desde os primórdios da nossa existência, a fé nos deuses e a busca ou a tentativa de encontrar algo que nos desse todas as respostas que procurávamos. Algo que nos transcendesse, alguma coisa superior a este mundo, a esta vida, algo criador de todo este ciclo.

Seria muito cruel de minha parte resumir a nossa curta vida, a uma passagem ou a simples peças utilitárias de um jogo, e não seres tão fantásticos únicos no universo. Mas já alguém disse que se fossemos só nós, seria “um grande desperdício de espaço”. Einstein também disse que a ciência seria cega sem a religião, dai que depreendo que, nós temos uma certa necessidade, senão extrema, de acreditar numa continuidade, de que isto não seja tão fatal. Se assim o fosse para quê procurar, para quê tentar obter respostas? Tudo seria em vão…Mas será que não o é? Será que algum dia, alcançaremos o que desejamos?

Posso então dizer que o que nos resta é lutar e viver na nossa “sociedade” para tentar achar essas respostas que, tanto queremos ter. Resta apenas ter a esperança que os nossos descendentes, os nossos filhos e todos os homens e mulheres que nos seguirem, tenham eles as respostas para estas tão grandes perguntas. Que tornem eles esta “linda” sociedade em algo mais bonito e agradável de habitar. Algo que se torne um “orgulho humano” e que não torne esta vida numa razão fria de viver.

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