Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.

outubro 17, 2004

Açores

Quando estamos sozinhos durante um espaço de tempo maior do que o dito “normal”, começamos a pensar mais do que o que deviamos. Eu pelo menos sou assim. Gosto da solidão, gosto de pensar, de reflectir, mais do que o “normal”. Sou atingida por vezes com paranóias que me põem depressiva e melancólica. Mas também, é durante esse breves períodos de tempo, que são escassos mas decisivos, que acabo por tomar as decisões da minha curtíssima vida. Coisas banais, para muitos, mas importantes para mim.

Tenho pensado muito naquilo que quero realmente. No meu instinto, nos meus sonhos, naquilo em que me transformo a cada minuto. Sinto-me uma pessoa muito melhor e mais ponderada que há 1 ano atrás. Certas coisas que me afligiam nesse tempo, para mim agora não passam de futilidades e coisas que detestava, agora admiro-as. É incrível como nos transformamos, como alteramos a nossa maneira de viver, de encarar a vida, esta tarefa tão difícil que é resistir a isto com dignidade.

Cada vez mais, os erros que faço têm em mim uma maior importância e tenho reflectido muito neles. Ás vezes magoamos pessoas das quais gostamos muito e nem damos conta que o fazemos. Mas esses erros ou essas acções irracionais, moldam-nos. Como o barro que nas mãos do oleiro inexperiente tem que ser trabalhado, nós também temos que o ser. Não sei se algum dia, seremos uma peça perfeita, a perfeição não existe, penso eu; mas tentamos sempre de algum modo, alcança-la. Tentamos satisfazermo-nos a cada dia, numa busca incansável. Busca essa que não sei se nos levará a algum lado, mas enquanto nos empreendemos nela, temos um objectivo, um percurso, um fim. É muito triste viver à deriva, sem objectivos. Mas cada dia que acordo, pergunto-me para quê, esta luta diária, se cada vez mais, nós temos um modo de estar com os outros tão frio e impessoal.

Não me canso de pensar em dar uma segunda oportunidade à humanidade, mas não sei se ela me dá a mim. Quando não somos recompensados, ficamos sem esperança de haver mais alguma coisa. A vida torna-se desoladora. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz, já que a felicidade nunca será plena. Mas ai, interrogo-me de quem será mais feliz: aqueles que levam uma vida pacata, ou aqueles que têm tudo e ambicionam tudo? Não sei escolher. Não sei a resposta. Há tantos exemplos, tantas diferenças e tanta miséria.

É-me pouco reconfortante pensar na vida de pessoas que agem como animais. Vivem como animais. Onde está a humanidade dessa gente? Onde entra aqui a educação? Será que haverá algum dia uma mudança? Ou não é preciso haver, porque no fundo se calhar essas pessoas são mais felizes do que eu?Ainda acredito que alguma coisa vai mudar. Acredito nos Homens. Tenho fé neles. Ainda confio nas pessoas, por mais que elas me magoem. Não passo de uma criança que ao ver uma praia, constrói um castelo de areia, esquecendo-se que na maré alta ele será levado pelo mar. Mas mesmo assim, continuo a construir esse castelo todos os dias. Não precisa de muralhas. Já as tem. Só precisa de janelas para ver a vida sempre diferente, e de onde possa ver um por do sol sobre o mar, cada dia alterado pela rotação da vida, da minha, da tua, da de cada um de nós.

(este texto foi escrito nos Açores, daí o título, mas só o encontrei agora)

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