Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.

outubro 12, 2007

Maturidade - s.f. estado de maduro; madureza; perfeição (Lat. maturitate)

Infantilidade
- s.f. qualidade de infantil; acto ou dito infantil; criancice; puerilidade .

Apesar de, espiritualmente a perfeição ser encarada como um estado superior e muitas das religiões, principalmente o budismo têm esse patamar como objectivo, ser infantil não é muitas vezes ser perfeito?

Até onde vai o limite ou barreira que separa o modo de ver as coisas de uma criança, dentro do seu mundo estruturalmente perfeito,encaixado no puzzle muitas vezes desencaixado que é a sua vida familiar?

Para uma criança, os poucos objectivos existentes resumem-se ao hoje e ao amanhã. Não há um futuro a longo prazo, não há cedências, não há introspecções nem sequer há o paradigma de ter que pensar. Basta fazer uma birra, recordar-se do que gosta e do que não gosta, e olhar-nos com aqueles olhos doces e ternurentos até cedermos e dar-lhe aquilo que tanto ansiava.

Depois é capaz de gritar de alegria, explodir de felicidade, e passados uns dias o brinquedo que tanto custou a ter, é esquecido num canto miserável ou fica ao abandono ou até sem amor sequer.

Se virmos as atitudes das crianças que não passam de seres pequenos, capazes de nos influenciar, que amamos por vezes e aos quais não fazemos mal,um estalo é desculpado com um beijo e um "não" é perdoado com um "sim".

Mostram ao mundo aquilo que têm, chamam a atenção quando são desprezados e vivem sempre em busca do nosso amor.

Gostava de ser novamente criança.
Mas a perfeição da infância, resume-se àquilo que ela é: o estágio até sermos adultos; até sermos maduros; ou até conseguirmos um dia ser perfeitos.
Não quero chamar a atenção de ninguém, não faço birras para querer alguém, já não conto ao mundo nem grito por aquilo que quero nem mostro o quanto te amo.
A perfeição é encarar este novo percurso com decência de saber amar, sem frases feitas, sem gemidos de amor, sem pedidos.
Porque se me quiseres, me darás.
Porque se me amas, mo dirás.
Porque se eu te vir, vou chorar!

outubro 09, 2007

O mar ou tu?

Amei-te.

E sorriste. E com esse gesto, os teus olhos brilharam e a tua pele transformou-se em luz. Falaste para mim, olhando-me seriamente na expectativa de eu prestar atenção a mais uma daquelas conversas tuas, que pensavas que eu não gostava.
Mas gostava.
Eu revi-me em ti, na tua luz, nessa forma que eu tanto amei de pensar a vida. Beijei-te às escondidas, sem ninguém ver.
Mas viram.
Ri-me de ti quando me querias ver sorrir, gritei contigo para não parares de me beijar e para não fugires. Mas a minha voz não chegou.
Ficou perdida no mar.
Ficou perdida, como eu fiquei, como ficamos perdidos quando não nos queríamos perder, mas perdemo-nos. Perdemo-nos porque fizemos por isso, porque vagueamos sem rumo, numa noite em que não havia tempo.
Mas o tempo, esse monstro que nos envelhece e atormenta, nunca deixa ninguém.
Às vezes, fica sossegado, à espera do momento mais cruel para nos mostrar que não podemos ser felizes.
Fica a olhar para nós, num canto, sempre a querer aparecer para nos assustar. O tempo é assim. Fugidio. Superficial. Macabro.

E o mar.
Olhamos o mar tantas vezes. Queríamos que o mar parasse. Que o tempo ajudasse e o mar nos unisse.
Mas o mar não é de confiança. O mar é traiçoeiro. É matreiro. Prega partidas a quem nele marear. O mar só gosta de quem não gosta dele, porque o mar não quer ter dono nem ser de ninguém.
E eu pedi-te para me abraçares. Para me contares histórias do mar. E tu sempre com medo de que eu não gostasse das historias que era eu que pedia para contar.

Tu foste como o mar.
Foste imenso como a imensidão do mar.
Fizeste-me chorar para saber a que sabor tem o mar.
Explodiste em mim como as ondas do mar.
Navegaste em mim tal como andas no mar.
E foste cruel como é o mar quando se revolta, num cinzento escuro daqueles dias de vento forte e quando todos em terra têm medo e ficam a rezar num burburinho, para que a tempestade passe e devolva a beleza ao mar.

outubro 07, 2007

Jorge Palma: Vôo Nocturno

Aqui ficam umas músicas que me têm acompanhado muito ultimamente. Umas por umas razões, outras por outras. Mas são do Jorge, e dizem tudo...


Finalmente a sós” é o que se pode chamar um lamento rockado. Jorge, enérgico, grita a plenos pulmões e expande-se no infinito nesta faixa, onde a guitarra eléctrica e o hammond, condizentes, se mostram poderosos.

Antes de teres aberto o mar
antes de teres virado o rio
eu era alguém às costas de outro alguém

Trouxeste mais contradições
trouxeste mais opiniões
e agora eu sou mais outro Zé-Ninguém

Finalmente só
Finalmente a sós

Quando eu já estava a sossegar
quando já estava a adormecer
vi-te dançar e a minha paz morreu

Odeio a luz do teu olhar
quando não brilha só p'ra mim
pensei que fosses um brinquedo meu

Finalmente só
Finalmente a sós



Olá, cá estamos nós outra vez” é uma balada ociosa que atira para o passado. Jorge repega uma história antiga começada a contar num outro álbum e aqui dá-lhe uma continuação. Parecendo um mestre da banda desenhada ou do romance que vai buscar as referências antigas que já ninguém lembra e aparecem do nada no presente. A canção é melancólica e triste, mas por outro lado uma canção de esperança. Referências a Fausto ou a processos rítmicos utilizados pelos Da Weasel são assumidos."

“Olá!Sempre apanhaste o tal comboio?
Eu já perdi dois ou três.
Entre o ócio e as esquinas
Ganhei o vício da estrada
Nesta outra encruzilhada
Talvez agora a coisa dê
O passado foi à história
Cá estamos nós outra vez

Conheço a tua cara,mas não sei o teu nome
Escrevo já aqui “não-sei-o-quê@ .com”
Eu vou-te reencontrar noutro bar de estação
Ou talvez quando perder mais um avião
O barco vai de saída,tu estás tão bronzeada
É tão bom ver-te assim, ardente
Tão queimada

Eu quero reencontrar-te noutra esquina qualquer
Sem saber o teu nome ou se ainda és mulher
Quero reconhecer-te e beber um café
Dizer-te de onde venho e perguntar-te porquê
Sorrir-te cá do fundo, subir os degraus
Eu quero dar-te um beijo a 50 e tal graus

Eu quero reencontrar-te noutra esquina qualquer
Sem saber o teu nome ou se ainda és mulher
Quero reconhecer-te e beber um café
Dizer-te de onde venho e perguntar-te porquê
Sorrir-te cá do fundo, subir os degraus
Eu quero dar-te um beijo a 50 e tal graus

Sempre apanhaste o tal comboio?
Eu já perdi dois ou três.
Entre o ócio e as esquinas
Ganhei o vício da estrada
Nesta outra encruzilhada
Talvez agora a coisa dê
O passado foi à história
Cá estamos nós outra vez
Cá estamos nós outra vez”

Quarteto da corda” é mais um petisco. Um jazz “maroto” e sedutor em que se conta uma história entre Justina e Baltazar que se entrecruzam com Cleia e Montolivo. Uma misturada das referências literárias de Jorge Palma. Um trocadilho amoroso e jocoso, com a tragédia misturada na criança que não sabe que não vai ter lar."

Justina e Baltazar encontraram-se à beira do rio
um estava sem calor e o outro mesmo cheio de frio
passou um cardume de lume que o engalfinhou
Justina e baltazar encontraram-se à beira do rio

A Cleia e o Montolivo andavam por Avinhão
estavam ambos à espera do próximo avião
um ia para Alexandria, o outro não sabia
Cleia e Montolivo andavam por Avinhão

No hemisfério do sul, um mosquito deu à asa
e uma criança nasceu sem saber que não tem casa
um objecto voador bem identificado
leva cento e tal pessoas de volta ao lar,
há-de lá chegar, hum, há-de lá chegar
com toda a certeza, há-de lá chegar!

Justina e Baltazar, a Cleia e o Montolivo
juntaram-se nas docas, beberam alguns digestivos
alguém tinha à disposição um belo apartemã
ninguém sabia com quem estava quando chegou a manhã
ninguém sabia quem era quando chegou a manhã...


(textos retirados do blog: www.bloguepalmaniaco.blogspot.com)