ELE
Frente a frente.
Um metro de distância que os separa.
Mas a quantos quilómetros é que está longe dela?
Tem segredos que não quer revelar.
Conversa sem parar para se distrair do seu olhar.
Flutua pelos arredores concentrando a mente nos vizinhos de café. Escuta as conversas e comenta o alheio.
Não sabe como se sentar, incomoda-o os ferros da cadeira, anseia pelas palavras que não quer ouvir.
Vive os gestos dela, persegue-a com a voz, cheira-lhe os movimentos, desperta-o os sentidos que ela lhe provoca.
Confronta-se com esse desejo que tenta expulsar na esperança que ela não dê conta dessa guerra interior mesmo à sua frente. Fala para se socorrer da intimidação.
Finalmente a hora de ir embora. Faz-se tarde.
ELA
Frente a frente.
Escolhe o ângulo da mesa para melhor observar.
As rugas, a expressão, os gestos, o cabelo. Algo mudou sem mudar. Está tudo igual, mas há diferenças profundas que a desorientam.
Não quer lembrar-se disso. Quer olhá-lo. Perceber as alterações do lugar que os fez perderem-se.
Ouve-o. Sente-o. Cheira-o. Não lhe toca. Não o beija.
Quer render-se no vaguear daquele tempo, contemplá-lo sem distracções, usá-lo como adorno num local destinado a não estar preenchido.
Quer chuva. Quer sol. Quer o vento. Quer usar o seu corpo junto ao dela. Quer deixá-lo partir. Quer aprisioná-lo numa dança só deles.
Já é tarde. Temos que ir embora.
Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.
setembro 20, 2007
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