Chamaste-me teu demasiadas vezes, tantas que eu deixei de me pertencer e evadi-me para ti, ao gosto do vento que passa tantas vezes por nós.
Juntos edificámos maravilhas a que chamámos sonhos, construímos pontes de alianças entre os povos que correram ao chamamento. Vimos o mundo numa perspectiva que há muito tinha desaparecido e resumimos o esforço, a um brinde de champanhe depois de um jantar de amigos.
Atravessámos o céu e beijámos as estrelas, passeámos nas nuvens e zangámo-nos com as trovoadas que falavam demasiado alto. Dançámos com os pássaros e escorremos com a chuva para onde ela nos quis levar.
Sobrevivemos ao cair das folhas do Outono e às noites sem Lua. Comungámos com a terra e adormecemos a ouvir o burburinho do mar.
Aqueles instantes que foram demasiado tempo para ti, tornaram-se em anos para mim. Respirei o teu sorriso, lutei contra as tuas lágrimas, quis transportar-te para uma praia onde a areia por debaixo dos nossos pés permitisse que a eternidade existisse.
Abandonaste-me à mercê da inexistência do meu próprio ser. Escreveste em mim a tua vida e rasgaste as páginas do nosso diário como se de um rascunho velho e sem valor se tratassem.
Vejo-me na minha solidão de velho embriagado pela juventude inocente, passando o tempo que falta, a recordar aqueles segundos, de quando eu te guiei a uma doce praia e fizemos amor, numa noite escura, tendo por testemunhas as estrelas que hoje não as vejo mais, e eu me vim dentro de ti com a inocência da primeira vez, e tu eras bela e mágica, e irradiavas uma transparência pela tua pele que tanto me cativou desde o primeiro toque.
Não fizeste mais do que era suposto fazer, sabias pouco mais do que eu, mas amei-te naquela noite sem luar e desejei-te para sempre, rever-te infinitamente nua naquele dia, naquela praia, a brilhar por debaixo das estrelas num cenário que nunca mais se encheu.
A praia mantém-se doce. As estrelas choram por ti. O mar pergunta para onde foste.
O velho só chama por ti...
Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.
março 15, 2008
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