Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.

março 15, 2008

A Praia

Chamaste-me teu demasiadas vezes, tantas que eu deixei de me pertencer e evadi-me para ti, ao gosto do vento que passa tantas vezes por nós.

Juntos edificámos maravilhas a que chamámos sonhos, construímos pontes de alianças entre os povos que correram ao chamamento. Vimos o mundo numa perspectiva que há muito tinha desaparecido e resumimos o esforço, a um brinde de champanhe depois de um jantar de amigos.

Atravessámos o céu e beijámos as estrelas, passeámos nas nuvens e zangámo-nos com as trovoadas que falavam demasiado alto. Dançámos com os pássaros e escorremos com a chuva para onde ela nos quis levar.
Sobrevivemos ao cair das folhas do Outono e às noites sem Lua. Comungámos com a terra e adormecemos a ouvir o burburinho do mar.

Aqueles instantes que foram demasiado tempo para ti, tornaram-se em anos para mim. Respirei o teu sorriso, lutei contra as tuas lágrimas, quis transportar-te para uma praia onde a areia por debaixo dos nossos pés permitisse que a eternidade existisse.
Abandonaste-me à mercê da inexistência do meu próprio ser. Escreveste em mim a tua vida e rasgaste as páginas do nosso diário como se de um rascunho velho e sem valor se tratassem.

Vejo-me na minha solidão de velho embriagado pela juventude inocente, passando o tempo que falta, a recordar aqueles segundos, de quando eu te guiei a uma doce praia e fizemos amor, numa noite escura, tendo por testemunhas as estrelas que hoje não as vejo mais, e eu me vim dentro de ti com a inocência da primeira vez, e tu eras bela e mágica, e irradiavas uma transparência pela tua pele que tanto me cativou desde o primeiro toque.
Não fizeste mais do que era suposto fazer, sabias pouco mais do que eu, mas amei-te naquela noite sem luar e desejei-te para sempre, rever-te infinitamente nua naquele dia, naquela praia, a brilhar por debaixo das estrelas num cenário que nunca mais se encheu.

A praia mantém-se doce. As estrelas choram por ti. O mar pergunta para onde foste.
O velho só chama por ti...

Sem comentários: