Uma travessia...por vezes fácil, outras vezes difícil. Um deserto, onde se tenta desesperadamente encontrar um oásis para ai permanecer, pelo menos na triste ilusão de ser feliz.

dezembro 27, 2007

Imagem

"Ó corpo feito à imagem
do meu desejo e meu amor
que vais comigo de viagem
pra onde eu for,
que mar é este em que andamos
há três noites bem contadas
e não tem ventos nem escolhos
nem ondas alevantadas?
que sol é este, que aquece,
mas sereno, tão sereno,
que não te põe menos branca
nem a mim põe mais moreno?
que paz é esta, nas horas
mais violentas e bravas?
(Sorrias: ias falar.
Sorrias e não falavas.)
que porto é este? esta ilha?
que terra é esta em que estamos?
(Era uma nuvem, de longe...
Deixou de o ser, mal chegámos.)
E este caminho, onde leva?
e onde acaba este jardim
que é tão em mim que é em ti?
que é tão em ti que é em mim?
Ó alma feita à imagem
do sonho que me desmede
- que sede é esta que temos
que é mais água do que sede?"

Sebastião da Gama

Não há por isso explicações a dar.
O que não se disse, já não se dirá. O que não se fez, nunca se fará.
E o que eu senti, ficou comigo e se sentiste, isso ficou contigo.
Não há mais voltas a dar nem mais desejos a reclamar. Há só a recordação de um tempo que já foi, de um momento partilhado em ti e tu em mim e uma vontade de te viver como nunca nos vivemos, nem vamos saber porque me abandonaste, porque eu te deixei, porque quiseste e porque eu o permiti.
Foram sonhos, ficaram memórias.
Ouviste-me a rir e eu escondi o meu choro. Mostrei-te o meu sorriso e não viste as minhas lágrimas.

dezembro 26, 2007

O muro

Conversas no frio de uma noite de inverno. Uma chuva miudinha a chatear os trausentes que passam e quem fala, agarrada a um cigarro para esconder um nervoso miudinho que é voltar a estar ali. Não com ele, mas sem ninguém.
Falas num burburinho, com medo de palavras fortes que possam ferir ideias ou mentalidades diferentes da tua. Mas agradeces a quem te ouve, escutar-te como se fosses uma sábia, cujas palavras são absorvidas como se uma verdade absoluta fossem.
Não são a verdade, mas são verdadeiras. No sentir, no seu som, no seu significado, na forma que lhe dás no teu dizer.
Resmungas e sofres a tapar a revolta que tens em abalar o mundo. Vives em pleno turbilhão desesperante que é lidar com situações com as quais não sabes conviver e as tuas capacidades estão muito além da realidade que te apresentam. Não queres ser arrogante mas, à tua volta só vês experiências demasiado banais para o teu ser e de tão inúteis que são, dar-lhe valor é diminuir o teu ser e enfrentar um lugar que não é o teu.
Largas um sorriso e enfrentas a razão...

Ouves música de Natal num outro dia em que marchas nessa tua busca incansável de ti.
Sentes algo que não consegues explicar e que exalta pelos teus sentidos uma impotência doce e calmante. Deixas de lutar pelo teu lugar. Não é ali, nunca foi, nem será. Imaginaste em tempos ocupar esse espaço, espaço que é demasiado pequeno para caberes lá.
O lugar nesse coração não existe e a tua dúvida permanece: será que houve um dia em que conseguiste entrar e apoderar-te do teu espaço ou foste sempre fustigada à entrada e tinhas apenas visões do que se passava lá dentro, como uma princesa com um muro muito alto à frente de onde ela consegue ver as torres do castelo, mas não consegue trepar o muro nem tem ajuda para chamar ninguém e dizer que está ali à tua espera!

dezembro 18, 2007

5 anos... Dói que se farta!

Conheço-te desde que nasci. Partilhei contigo momentos da minha curta vida que hoje guardo para recordar com o sabor do amor e de carinho que se tem por quem se quer bem.
Em mais um dia triste que te recordo de te ver pela última vez, naquela cama, naquele quarto, sei que sinto a tua falta e que a vida mudou sem eu mudar.
Olho-me ao espelho e vejo o teu reflexo. Acordo a sonhar contigo.
Pegas-me ao colo como tantas vezes fizeste e resmungas como eu tanto não gostei.
Tenho saudades de chegar a casa e de te dizer "olá". Partilhar histórias de outros dias e esconder-te o momento que era só meu.
Recuso-me a passar por aquela porta e não te ver naquela mesa. Sei o teu nome porque faz parte do meu e choro a falta que me fazes.
Gostava de ter mais tempo contigo e viver mais do que eu sou. Porque sou o que sou porque tu me fizeste assim e o que gosto, aprendi contigo.
Lembraste de tantas vezes me sentares ao calo e comeres comigo?
De jogarmos às cartas até nos mandarem para a cama...
De me pedires coisas que só eu te ia dar... às escondidas na cozinha a procurar os teus pedidos de última hora com os quais todos se zangavam contigo.
Lembro-me de me dares a mão e irmos ver o comboio chegar.
De te desarrumar a secretária e de ralhares comigo.
Lembro-me do último beijo que te dei e da nossa despedida.
Das lágrimas que me escorrem quando soube que tinhas partido.
Do telefone. Da dor de mexer na roupa. De te saber num sítio longe e tão presente em mim.
De já não recordar a tua voz porque não a ouvi mais.
Saber a sonoridade. Querer-te ouvir mais do que em sonhos. De te abraçar e dizer que sinto muito a tua falta, Meu Avô.

dezembro 15, 2007

Resolução de Problemas

A Grande Mentira

Não é algo que sonhe.
Tive-te quando mais queria
Ficaste enquanto quisemos
E partiste quando quiseste

Não era fundamental
Partilhar mais do que nós
Quando te tive temi que me quisesses
E quis-te muito forte quando partiste

Talvez volte a ter-te
Alterarei o que escrevi
Não que a história mude,
Essa repetir-se-á

Sinto que só assim
Com mais uma vez
Terei um ponto final

Não, não pensei que tinhas algo a esconder
Pareceu-me tão claro o que nos estava a acontecer
Se o que trocámos não conta, eu não quero viver
Construí uma mentira que me está a corromper.


Em escuta: Balla: A grande mentira
letra: Armando Teixeira



(não podia encontrar melhor música para resumir o sentido deste último tempo da minha vida)

dezembro 13, 2007

A princesa que não quis ser salva

"não saio daqui não posso,
não falo pra ti nem ouço,
se desço arrefeço num caldo arrepio
estou quase a cair em mim.
só saio daqui no osso sem ponta por onde agarrar,
mas se tudo o que eu digo parece castigo,
podes arriscar e não tenhas medo de caras feias.

a princesa que não quis ser salva
pelo príncipe que lhe calhou subiu as tranças,
mas o bom rapaz escalou a torre com garras afiadas
e disse: "não tenho medo de caras feias". "

Paulo Praça


Esta é para ti. E tu sabes quem!
(eu não tenho medo de descer da torre, se me vieres salvar)

Deves estar a chegar - Oioai

Outro dia ouvi esta música. Tem uma letra simples e uma música alegre mas nostálgica que entra no ouvido e damos por nós a trautear e cantarolar sem dar conta!


"Nas noticias da manhã,
falavam de um furacão no México.
A imagem dos viajantes decepcionados,
foi o fundo do aeroporto,
onde podes estar a chegar.

Deves estar a chegar, estiveste tão longe,
agora deves estar a chegar.

Deves estar a chegar,
deves estar a chegar,
deves estar a chegar.

Deves estar a chegar,
deves estar a chegar,
deves estar a chegar.

Não te vi e tentei voltar a dormir
sabendo que a Ásia ainda estava longe.
Mas como não chegaste fiquei preocupado,
nada nas notícias porque é que não estou
a receber uma chamada tua.

Devias estar a chegar, estiveste tão longe,
agora deves estar a chegar.
Sim.

Deves estar a chegar,
deves estar a chegar,
deves estar a chegar.

Deves estar a chegar,
deves estar a chegar,
deves estar a chegar.

Devias estar a chegar, estiveste tão longe,
agora deves estar a chegar.

Deves estar a chegar,
deves estar a chegar,
deves estar a chegar."

O pássaro

Entras num voo que não sabes que final terá. Bates essas asas precoses que são frágeis demais para uma viagem demasiado grande. Sentes o vento frio no corpo morno que cedo arrefece e te torna o sangue em gelo.
Partes num percurso não desenhado em qualquer mapa nem te conduzes pelos teus iguais. Vais sozinho nessa descoberta tardia desse céu que só tu queres conhecer.
Embarcas em silêncio sem olhar para trás e logo te apercebes do duro que será.
Mas ser pássaro é assim.
PODES VOAR!
Sentes a liberdade de sair do ninho e quebras as amarras que te ligam ao lar. Perguntas-te porque mais ninguém te segue. É hora de fugir dali. De aventura. Mas ninguém olha para ti. Desprezam-te por quereres desistir de uma vida cómoda e igual à deles. Olham-te como se não pertencesses ali, àquele ninho, à tal família a quem dizes pertencer.
E tu não queres saber.

SALTAS
... e VOAS!
Leve como uma pluma. Livre como o ar.
Aquele segundo tornou-se a tua vida. Nada mais esperas do que simplesmente voar. Voar para sempre. Navegar pelo céu. Ir até às estrelas, e não te importas de não voltar, porque já viveste aquilo para que nasceste.
Voas até ao sol. Até à tua última força para bater as asas.
Voas até ao teu último suspiro.
Voas até ao teu último olhar a contemplar a visão de uma vida em que não tiveste medo de te libertar, porque o teu sangue gelou e morres ali sem nada que te atormente, nesse teu voar de pássaro livre.

dezembro 12, 2007

Como?

Choro em silêncio a dor gritante que trago dentro de mim. Rezo para que voltes com esse teu ar nostalgicamente lancinante a chamar por mim. Peço para que fiques...

Viras-me as costas. Partes em busca de verdades que não têm resposta e embarcas em viagens sem regresso.
O sabor salgado de uma lágrima escorre-me pelos lábios e fico a conhecer o sabor da dor. É um sabor amargo com uma pitada de sal que me pesa no peito e que me dá um brilho triste ao olhar.

Olho para trás e vejo-me a mim e a ti. Não conheço já esse reflexo de um tempo que já lá foi. Questiono-me sobre quem são essas imagens semelhantes a ti e a mim. Alguém que num tempo que passou fui eu e foste tu. Pareço-me com essa representação feminina a contemplar algo parecido com amor.
Onde ficou essa mulher?
Como a perdi?
Como me perdeste?
Como te perdi?

dezembro 11, 2007

trinta dias

O tempo passa e nada muda.
Um mês decorrido e ando eu a ouvir Balla novamente até à exaustão.

Sinto-me estranha, fora de mim, como se algo tivesse apoderado do meu corpo e fosse esse o guia que o levanta e conduz em mais um dia da minha vida.
Queria ficar impecavelmente deitada a dormir sem sonhos que me assustem, nem pesadelos que me acordem.
Quero dormir num sono profundo sem imagens que me despertem para ti.
Quero isolar-me deste meu mundo e nunca mais olhar-te com estes meus olhos que te desejam olhar eternamente.
Desejo-te com todo o meu corpo e sinto a alma suja de tanto rancor que sinto por te ter amado. Amor proibido e desobediente que me fez reconhecer que seres diferentes se podem gostar.
Quero-te bater. Quero-te gritar. Quero ver-te chorar. Chorar por mim o mesmo que eu já chorei por ti.
Quero que o tempo passe...
Quero que passe um século neste minuto que passa.
Quero abraçar-te. Trocar de lugar contigo. Deixar a indecisão. Quero a tua pele morena.
Quero que fiques como eu estou.
Mas quero que fiques. Quero que queiras. E quero não querer.
Porquê?
Porque sim. Porque te quero com todo o meu ser.

novembro 12, 2007

O Fim da Luta

Gosto de ver-te passar
Anseio por ver-te passar
Mas eu não vou,
Não vou...

Adoro ver-te gozar
Quero ver-te gozar
Mas eu não estou,
não estou...

eu provavelmente morro com o fim da luta
mas se te faz feliz eu paro
e recomeço com um ódio de amor
que nao nos faça tanto mal, que não nos torne mais amargos
e nos deixe sem dúvidas, eu
provavelmente morro com o fim da luta, mas se te faz feliz...

hoje não vamos falar
recuso ouvir-me falar
mas eu não sou...
não sou...
forte pra te contestar
e tu queres ver-me gozar,
mas eu não estou...
não estou...

Eu provavelmente morro com o fim da luta
mas se te faz feliz eu paro
e recomeço com um ódio de amor
que nao nos faça tanto mal, que não nos torne mais amargos
e nos deixe sem dúvidas, eu
provavelmente morro com o fim da luta, mas se te faz feliz...

Eu provavelmente morro com o fim da luta
mas se te faz feliz eu paro
e recomeço com um ódio de amor
que não nos faça tanto mal, que não nos torne mais amargos
e nos deixe sem dúvidas, eu
provavelmente morro com o fim da luta, mas se te faz feliz...

eu provavelmente morro com o fim da luta...

eu provavelmente morro com o fim da luta
mas se te faz feliz...

Balla

novembro 09, 2007

Pudesse eu como o luar
Sem consciência encher
A noite e as almas e inundar
A vida de não pertencer!


Fernando Pessoa


Pudesse eu encher-te de vida como as palavras do poeta me completam a mim e a ti.

Quisesse eu não ter consciência de viver mais um dia sem te ter.

Gostasse eu de ser a tua alma e evadir-me para dentro de ti, preenchendo-me até à exaustão da mais pequena partícula a completar, unificando-me no presente e no futuro, guiando-te neste mundo de desilusões.

Vivesse eu a noite como a conheceste e como eu te conheci, caçador de sonhos, de mar, príncipe dos meus sois, eternamente enamorado pelos meus olhos que te alcançam num vazio cheio de esperança.

Corresse eu para te observar beijando-te em surdina, pertencendo-te pelo queimar do vento que percorria as palavras que dizíamos a medo, as palavras que disseste que agora já não são nada porque já foram tudo, tudo o que o tempo levou para trás de ti, para trás da recordação de um tempo em que os nossos segredos foram eternos, em que as tuas mãos encheram o meu corpo que se mergulhou nas tuas promessas irreais e amedrontadas pelo pertencer a alguém.

outubro 12, 2007

Maturidade - s.f. estado de maduro; madureza; perfeição (Lat. maturitate)

Infantilidade
- s.f. qualidade de infantil; acto ou dito infantil; criancice; puerilidade .

Apesar de, espiritualmente a perfeição ser encarada como um estado superior e muitas das religiões, principalmente o budismo têm esse patamar como objectivo, ser infantil não é muitas vezes ser perfeito?

Até onde vai o limite ou barreira que separa o modo de ver as coisas de uma criança, dentro do seu mundo estruturalmente perfeito,encaixado no puzzle muitas vezes desencaixado que é a sua vida familiar?

Para uma criança, os poucos objectivos existentes resumem-se ao hoje e ao amanhã. Não há um futuro a longo prazo, não há cedências, não há introspecções nem sequer há o paradigma de ter que pensar. Basta fazer uma birra, recordar-se do que gosta e do que não gosta, e olhar-nos com aqueles olhos doces e ternurentos até cedermos e dar-lhe aquilo que tanto ansiava.

Depois é capaz de gritar de alegria, explodir de felicidade, e passados uns dias o brinquedo que tanto custou a ter, é esquecido num canto miserável ou fica ao abandono ou até sem amor sequer.

Se virmos as atitudes das crianças que não passam de seres pequenos, capazes de nos influenciar, que amamos por vezes e aos quais não fazemos mal,um estalo é desculpado com um beijo e um "não" é perdoado com um "sim".

Mostram ao mundo aquilo que têm, chamam a atenção quando são desprezados e vivem sempre em busca do nosso amor.

Gostava de ser novamente criança.
Mas a perfeição da infância, resume-se àquilo que ela é: o estágio até sermos adultos; até sermos maduros; ou até conseguirmos um dia ser perfeitos.
Não quero chamar a atenção de ninguém, não faço birras para querer alguém, já não conto ao mundo nem grito por aquilo que quero nem mostro o quanto te amo.
A perfeição é encarar este novo percurso com decência de saber amar, sem frases feitas, sem gemidos de amor, sem pedidos.
Porque se me quiseres, me darás.
Porque se me amas, mo dirás.
Porque se eu te vir, vou chorar!

outubro 09, 2007

O mar ou tu?

Amei-te.

E sorriste. E com esse gesto, os teus olhos brilharam e a tua pele transformou-se em luz. Falaste para mim, olhando-me seriamente na expectativa de eu prestar atenção a mais uma daquelas conversas tuas, que pensavas que eu não gostava.
Mas gostava.
Eu revi-me em ti, na tua luz, nessa forma que eu tanto amei de pensar a vida. Beijei-te às escondidas, sem ninguém ver.
Mas viram.
Ri-me de ti quando me querias ver sorrir, gritei contigo para não parares de me beijar e para não fugires. Mas a minha voz não chegou.
Ficou perdida no mar.
Ficou perdida, como eu fiquei, como ficamos perdidos quando não nos queríamos perder, mas perdemo-nos. Perdemo-nos porque fizemos por isso, porque vagueamos sem rumo, numa noite em que não havia tempo.
Mas o tempo, esse monstro que nos envelhece e atormenta, nunca deixa ninguém.
Às vezes, fica sossegado, à espera do momento mais cruel para nos mostrar que não podemos ser felizes.
Fica a olhar para nós, num canto, sempre a querer aparecer para nos assustar. O tempo é assim. Fugidio. Superficial. Macabro.

E o mar.
Olhamos o mar tantas vezes. Queríamos que o mar parasse. Que o tempo ajudasse e o mar nos unisse.
Mas o mar não é de confiança. O mar é traiçoeiro. É matreiro. Prega partidas a quem nele marear. O mar só gosta de quem não gosta dele, porque o mar não quer ter dono nem ser de ninguém.
E eu pedi-te para me abraçares. Para me contares histórias do mar. E tu sempre com medo de que eu não gostasse das historias que era eu que pedia para contar.

Tu foste como o mar.
Foste imenso como a imensidão do mar.
Fizeste-me chorar para saber a que sabor tem o mar.
Explodiste em mim como as ondas do mar.
Navegaste em mim tal como andas no mar.
E foste cruel como é o mar quando se revolta, num cinzento escuro daqueles dias de vento forte e quando todos em terra têm medo e ficam a rezar num burburinho, para que a tempestade passe e devolva a beleza ao mar.

outubro 07, 2007

Jorge Palma: Vôo Nocturno

Aqui ficam umas músicas que me têm acompanhado muito ultimamente. Umas por umas razões, outras por outras. Mas são do Jorge, e dizem tudo...


Finalmente a sós” é o que se pode chamar um lamento rockado. Jorge, enérgico, grita a plenos pulmões e expande-se no infinito nesta faixa, onde a guitarra eléctrica e o hammond, condizentes, se mostram poderosos.

Antes de teres aberto o mar
antes de teres virado o rio
eu era alguém às costas de outro alguém

Trouxeste mais contradições
trouxeste mais opiniões
e agora eu sou mais outro Zé-Ninguém

Finalmente só
Finalmente a sós

Quando eu já estava a sossegar
quando já estava a adormecer
vi-te dançar e a minha paz morreu

Odeio a luz do teu olhar
quando não brilha só p'ra mim
pensei que fosses um brinquedo meu

Finalmente só
Finalmente a sós



Olá, cá estamos nós outra vez” é uma balada ociosa que atira para o passado. Jorge repega uma história antiga começada a contar num outro álbum e aqui dá-lhe uma continuação. Parecendo um mestre da banda desenhada ou do romance que vai buscar as referências antigas que já ninguém lembra e aparecem do nada no presente. A canção é melancólica e triste, mas por outro lado uma canção de esperança. Referências a Fausto ou a processos rítmicos utilizados pelos Da Weasel são assumidos."

“Olá!Sempre apanhaste o tal comboio?
Eu já perdi dois ou três.
Entre o ócio e as esquinas
Ganhei o vício da estrada
Nesta outra encruzilhada
Talvez agora a coisa dê
O passado foi à história
Cá estamos nós outra vez

Conheço a tua cara,mas não sei o teu nome
Escrevo já aqui “não-sei-o-quê@ .com”
Eu vou-te reencontrar noutro bar de estação
Ou talvez quando perder mais um avião
O barco vai de saída,tu estás tão bronzeada
É tão bom ver-te assim, ardente
Tão queimada

Eu quero reencontrar-te noutra esquina qualquer
Sem saber o teu nome ou se ainda és mulher
Quero reconhecer-te e beber um café
Dizer-te de onde venho e perguntar-te porquê
Sorrir-te cá do fundo, subir os degraus
Eu quero dar-te um beijo a 50 e tal graus

Eu quero reencontrar-te noutra esquina qualquer
Sem saber o teu nome ou se ainda és mulher
Quero reconhecer-te e beber um café
Dizer-te de onde venho e perguntar-te porquê
Sorrir-te cá do fundo, subir os degraus
Eu quero dar-te um beijo a 50 e tal graus

Sempre apanhaste o tal comboio?
Eu já perdi dois ou três.
Entre o ócio e as esquinas
Ganhei o vício da estrada
Nesta outra encruzilhada
Talvez agora a coisa dê
O passado foi à história
Cá estamos nós outra vez
Cá estamos nós outra vez”

Quarteto da corda” é mais um petisco. Um jazz “maroto” e sedutor em que se conta uma história entre Justina e Baltazar que se entrecruzam com Cleia e Montolivo. Uma misturada das referências literárias de Jorge Palma. Um trocadilho amoroso e jocoso, com a tragédia misturada na criança que não sabe que não vai ter lar."

Justina e Baltazar encontraram-se à beira do rio
um estava sem calor e o outro mesmo cheio de frio
passou um cardume de lume que o engalfinhou
Justina e baltazar encontraram-se à beira do rio

A Cleia e o Montolivo andavam por Avinhão
estavam ambos à espera do próximo avião
um ia para Alexandria, o outro não sabia
Cleia e Montolivo andavam por Avinhão

No hemisfério do sul, um mosquito deu à asa
e uma criança nasceu sem saber que não tem casa
um objecto voador bem identificado
leva cento e tal pessoas de volta ao lar,
há-de lá chegar, hum, há-de lá chegar
com toda a certeza, há-de lá chegar!

Justina e Baltazar, a Cleia e o Montolivo
juntaram-se nas docas, beberam alguns digestivos
alguém tinha à disposição um belo apartemã
ninguém sabia com quem estava quando chegou a manhã
ninguém sabia quem era quando chegou a manhã...


(textos retirados do blog: www.bloguepalmaniaco.blogspot.com)

setembro 30, 2007

Fruto da Imaginação (quem és tu?)

Eras tu
Na razão das aves e no sol das manhãs
Eras tu
No correr das águas e na cor das romãs.

Como foi
Que perdi o pé no coração
Tu és tudo o que me é dado criar
És um fruto da imaginação.

Eras tu
Em todas as praças, em todas as cidades
Eras tu
Na paz do silêncio depois das tempestades.

Quem és tu
Que andas com a lua na algibeira à espera que eu vá
Quem és tu
De perna traçada no meu sonho como se fosses de lá

Eras tu
Em todas as praças, em todas as cidades
Eras tu
Na paz do silêncio depois das tempestades.

Letra de João Monge - O Assobio da Cobra - A Banda Sonora de um Filme por Fazer

setembro 26, 2007

Tatuagens



Em cada gesto perdido
Tu és igual a mim
Em cada ferida que sara
Escondida do mundo
Eu sou igual a ti

Fazes pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
Pintas o sol da cor da terra
E a lua da cor do mar

Em cada grito de alma
Eu sou igual a ti
De cada vez que um olhar
Te alucina e te prende
Tu és igual a mim

Fazes pinturas de sonhos
Pintas o sol na minha mão
E és mistura de vento e lama
Entre os luares perdidos no chão

Em cada noite sem rumo
Tu és igual a mim
De cada vez que procuro
Preciso um abrigo
Eu sou igual a ti

Faço pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
E pinto a lua da cor da terra
E o sol da cor do mar

Em cada grito afundado
Eu sou igual a ti
De cada vez que a tremura
Desata o desejo
Tu és igual a mim

Fazes pinturas de sonhos
E pinto a lua na tua mão
Misturo o vento e a lama
Piso os luares perdidos no chão


(letra e música de Mafalda Veiga)

setembro 20, 2007

Duelo

ELE
Frente a frente.
Um metro de distância que os separa.
Mas a quantos quilómetros é que está longe dela?
Tem segredos que não quer revelar.
Conversa sem parar para se distrair do seu olhar.
Flutua pelos arredores concentrando a mente nos vizinhos de café. Escuta as conversas e comenta o alheio.
Não sabe como se sentar, incomoda-o os ferros da cadeira, anseia pelas palavras que não quer ouvir.
Vive os gestos dela, persegue-a com a voz, cheira-lhe os movimentos, desperta-o os sentidos que ela lhe provoca.
Confronta-se com esse desejo que tenta expulsar na esperança que ela não dê conta dessa guerra interior mesmo à sua frente. Fala para se socorrer da intimidação.
Finalmente a hora de ir embora. Faz-se tarde.

ELA
Frente a frente.
Escolhe o ângulo da mesa para melhor observar.
As rugas, a expressão, os gestos, o cabelo. Algo mudou sem mudar. Está tudo igual, mas há diferenças profundas que a desorientam.
Não quer lembrar-se disso. Quer olhá-lo. Perceber as alterações do lugar que os fez perderem-se.
Ouve-o. Sente-o. Cheira-o. Não lhe toca. Não o beija.
Quer render-se no vaguear daquele tempo, contemplá-lo sem distracções, usá-lo como adorno num local destinado a não estar preenchido.
Quer chuva. Quer sol. Quer o vento. Quer usar o seu corpo junto ao dela. Quer deixá-lo partir. Quer aprisioná-lo numa dança só deles.
Já é tarde. Temos que ir embora.

setembro 18, 2007

Abrir o Sinal


Escolher a fragilidade, decidir pelo mais óbvio, optar pelo permitido;
Ver-te carente e saudoso, ouvir-te sem planos, saber-te sozinho.

Somos sempre tão cobardes e passivos.
Queremos aquilo que nos faz ter menos suor, o mais fácil ganhar, a batota.
Queremos o hábito, pouco lutamos pela mudança e desprezamos sem saber a liberdade maluca.
Fingimos desconhecer a coragem, escondemo-nos atrás de um véu de ilusões e não perdemos muito tempo a tentar ser feliz.

Giramos num mundo de comilões hábeis, sentimentos frágeis, tempo escasso e egoísta.
Temos medo do desconhecido, mantemos esta máscara natural e uniformizada igual à face do anónimo que passa por nós no outro lado da rua.
Ocultamos o nome, escondemos o olhar, tentamos tapar a pele arrepiada por te reencontrar noutra vida que julgamos ser a presente.
Já não sabemos chorar, já não brilham os olhos à luz do luar quando dizes que gostas de mim, já não me escorrem as lágrimas sofridas, pela pele até ao umbigo.
O cansaço apodera-se dos músculos, da alma, da voz.
Seguimos pela estrada sem fim, vagueamos por aí, e tememos a sorte de te voltar a olhar.



Abrir o sinal

Jorge Palma in Voo Nocurno

Eu disse "vamos partir, o espaço é seco, vazio e banal, vamos fugir!"
andámos de lugar em lugar
talvez a deixa fosse má, afinal a marca ainda cá está
a conspirar nalgum patamar

Não é o momento de te aconchegar
e não posso ver-te mal
acho que chegou o tempo de abrir o sinal
não sou suposto ver onde vais
nem saber com quem tu sais
neste canto meu
tens um mundo que é só teu

Olha que os nossos pés, mesmo que às vezes estejam de revés, são de proteger
respondem à voz do coração
com erva, vento, pedra e frio, na montanha ou no rio
merecem ternura e atenção

Não é o momento de te aconchegar
e não posso ver-te mal
acho que chegou o tempo de abrir o sinal
não sou suposto ver onde vais
nem saber com quem tu sais
neste canto meu
tens um mundo que é só teu.

setembro 10, 2007

Os meus defeitos

Acorda-me na Primavera do ano que vem
Porque este tempo cinzento deixa-me tão em baixo.
Pudesse eu dizer ao mundo tudo o que sinto,
É que um homem também sente, também sofre, também chora.

Desculpa não te disse os meus defeitos.
Serei só eu quem os tem?
Defeitos.
Defeitos.

Será que a saliva que gasto irá dar-me o que pretendo?
Este eterno monólogo desgasta-me bem cá dentro.
As saudades que carrego pesam toneladas.
É que um homem também sente, também sofre, também chora.


Desculpa não te disse os meus defeitos.
Serei só eu quem os tem?
Defeitos.
Defeitos.


Defeitos.
Defeitos.
Os meus defeitos.


Ricardo Azevedo feat Rui Veloso

setembro 03, 2007

setembro 02, 2007

Pescador


O mar.
O sal.
O som.
A sua pele escura, queimada pelo sol; o seu olhar profundo de quem sabe encontrar o norte a olhar para a lua.

O riso.
O grito.
O olfacto.
A sua alegria quando olha para as ondas; de quem conhece a água na sua plena infinitude, desafiando esse monstro adormecido, reconhecendo o seu poder.

O respeito.
O olhar.
O sofrimento.
A ousadia de querer surpreender mesmo sabendo a sua pequenez face àquilo que procura.

As suas mãos conhecedoras calejadas pelo gosto ao que mais gosta.
O seu cabelo vivido despertando sonhos e proezas.
O seu orgulho ao contar histórias de felicidade.

Um herói de todos os dias. Um rapaz como tantos os outros. Uma paixão verdadeira. Um gosto de viver o mar, amando cada onda, como cada segundo da sua existência.

Esse herói existe em cada porto, em cada cais, em cada criança sentada a olhar o mar.

Pescou-me com o seu anzol de saber e deu-me vida, salvando-me do meu oceano descolorido e cinzento.
Os momentos que passei no seu barco, quando ele tratava de mim para não morrer, senti a decência e humildade existente ainda em cada homem, e cada gesto seu marcou-me em cada centímetro do meu frágil corpo dormente, e ainda hoje olho todos os dias para o horizonte na esperança de voltar a vê-lo.

Ao meu pescador.

julho 19, 2007

"O sexo tem de ser um pouco egoísta para que haja verdadeira excitação. Se se começa a preocupar com as reacções da outra pessoa, não se encontra o grande prazer, e tem de fazer-se amor uma série de vezes até se tornar suficientemente natural para que seja satisfatório. Entre estranhos, a primeira vez pode ser como uma centelha de luz, mas quando acontece entre pessoas que se conhecem bem e têm uma firme afeição, é mais provável que no subconsciente impere algum embaraço, sobretudo depois."

Tennessee Williams, A Festa, in A Noite da Iguana e Outras Histórias

junho 22, 2007

"acredito na raiz dos sonhos, nos instantes mágicos...em finais felizes"

junho 20, 2007

Soneto da Felicidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

junho 18, 2007

junho 14, 2007

"O Rei do Zum-Zum"

Já que estou quase a ser famoso,
desta fama não me livro,
não quero só dar nas vistas,
nas capas coloridas das revistas.
Que me retratem num livro,
uma coisa romanceada,
de conteúdo sólido e gasoso,
uma coisa por exemplo, intitulada:
"é famoso, por ser famoso".

Eu quero entrar em grande,
na grande cidade.
Não me vou deixar morrer
antes da idade.
Uma coisa é aparecer,
outra é a celebridade.
na verdade quero ser, sei lá,
o número um
eleito o rei do zum-zum
zum-zum
eleito o rei do zum-zum

Eu quero entrar em grande
na posterioridade.
Controlo a rotunda a
toda a velocidade.
O meu charme não tem
prazo de validade.
Na verdade quero ser, para já,
o número dois,
P´ra me ultrapassar depois, dois - um.
Eleito o rei do zum-zum
zum-zum
Eleito o rei do zum-zum
zum-zum.

E vou correndo de ecrã em ecrã
da sitcom ao site ponto com
a ver se nalgum deles
se ilumina o meu nome
eu quero a fama e o proveito
(ninguém é perfeito…)
eu quero a fama e o proveito
(ninguém é perfeito)

Eu quero entrar em grande
e não pela metade
talvez que não haja
outra oportunidade
p’ra apalpar de perto
o corpo à eternidade
na verdade quero ser, sei lá,
o número um
eleito o rei do zum-zum
zum-zum
eleito o rei do zum-zum


E vou correndo de ecrã em ecrã
da sitcom ao site ponto com
a ver se nalgum deles
se ilumina o meu nome
eu quero a fama e o proveito
(ninguém é perfeito…)
eu quero a fama e o proveito
(ninguém é perfeito)

Mas se um dia já não for famoso
arco-íris desmaiado
não me rabisquem nas revistas
das salas de espera dos dentistas
vão ao mapa cor-de-rosa
redesenhem poema e prosa
com conteúdo sólido e gasoso
p’ro melhor argumento adaptado:
Foi famoso por ser famoso

Sérgio Godinho - Ligação Directa

junho 11, 2007

Competencia para amar

Vieste comigo
nesse jeito pós-moderno
de não querer saber nada
de não fazer perguntas
essa pose cansada
tão despida de emoção
de quem já viu tudo
e tudo é uma imensa
repetição

não fosse a minha competência para amar
e nunca teriamos acontecido
num mundo de competências
e técnicas de ponta
a dádiva da fala
quase já não conta

depois quase ias embora
desse modo
evanescente
não soubesse eu ver-te
tão transparente
e teria sido apenas
o encontro acidental
uma simples vertigem
dum desporto radical

não fosse a minha competência para amar
e nunca teriamos acontecido
num mundo de competências
e técnicas de ponta
a dádiva da fala
quase já não conta

Clã - Rosa Carne

junho 07, 2007

"Espera-se sempre que a hora mais esperada seja assim, simples, rápida, suave, pouca dor, pouca consciência, pouca amargura. Espera-se sempre que venha tarde, quanto mais tarde melhor, que passe depressa, e que subitamente já não se sinta nada. Tudo findou. Adeus ao sofrimento, à fome, à responsabilidades, adeus pecados que se guardam em segredos (ai se me descobrem, ai se me descobrem!)."

by Panóptica

...

Assustaste-te.
Ficaste sem saber o que me dizer, enquanto eu falava sem me calar, tentando arranjar uma solução, uma desculpa, que pudesse ser a resposta para aquilo que eu queria, para aquilo que tu querias.

Não houve resposta.
Houve esperança, houve desilusão e houve realidade.
Encontraste o meu olhar, sem me beijar docemente, como eu esperava que acontecesse.
Tremia-te a mão, tentavas fugir, sem me poderes responder àquilo que eu te perguntava.

Querias ir embora. Ausentar-te para um mundo só teu, onde os teus muros são fortes como o betão, e onde só um sábio consegue atravessá-los, sem adivinhar o que o espera e ao mesmo tempo sem certezas matemáticas nem de cálculo que lhe possam dar razão. Sim, porque aqui, não há certezas. Mas nesse teu mundo, o mais incerto é certo. Não há sonhos que não sejam reais, não há objectivos que não sejam concretizados.

É viver com a certeza do dia que te espera, do que vais encontrar, sem haver espaço para desequilibrios em que não consegues agir, pois, a perturbação desse mundo estável, faz-te recuar, mas não te faz ceder.

Adeus - Eugénio de Andrade

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

maio 05, 2007

" Dormir com alguém é a intimidade maior. Não é fazer amor. Dormir, isso é que é intímo. Um homem dorme nos braços de mulher e a sua alma se transfere de vez. Nunca mais ele encontra suas interioridades"

Mia Couto

janeiro 24, 2007

Sempre para sempre - Donna Maria

Há amor amigo
Amor rebelde
Amor antigo
Amor de pele

Há amor tão longe
Amor distante
Amor de olhos
Amor de amante

Há amor de inverno
Amor de verão
Amor que rouba
Como um ladrão

Há amor passageiro
Amor não amado
Amor que aparece
Amor descartado

Há amor despido
Amor ausente
Amor de corpo
E sangue bem quente

Há amor adulto
Amor pensado
Amor sem insulto
Mas nunca tocado

Há amor secreto
De cheiro intenso
Amor tão próximo
Amor de incenso

Há amor que mata
Amor que mente
Amor que nada mas nada
Te faz contente me faz contente

Há amor tão fraco
Amor não assumido
Amor de quarto
Que faz sentido

Há amor eterno
Sem nunca talvez
Amor tão certo
Que acaba de vez

Musica: Ricardo Sotna e Gil do Carmo
Letra: Miguel A. Majer